A campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil completa um ano nesta segunda-feira (17/1). Há 12 meses, os brasileiros assistiram a enfermeira Mônica Calazans receber, em São Paul (SP), a primeira dose de um imunizante aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contra o Coronavírus, a Coronavac.
Para muitos, a cena é guardada na memória como um momento de renovação de esperanças após um ano de incertezas, com mais de 8 milhões de casos confirmados da doença e cerca de 209 mil óbitos até então.
De lá para cá, muita coisa mudou — para começar, mais de 339 milhões de doses de vacinas foram distribuídas em todo o país. Cerca de 68% da população brasileira completou o esquema de imunização com duas doses ou dose única, e 15% já receberam o reforço, segundo dados do monitoramento Our World in Data, projeto feito em parceria com a Universidade de Oxford para acompanhar o ritmo da vacinação no mundo.
Hoje, mesmo vivendo mais uma onda de novos casos impulsionada pela variante Ômicron, os óbitos em consequência da Covid-19 não têm acompanhado a alta nos diagnósticos: na semana epidemiológica entre os dias 2/1 e 8/1/22, foram registrados 208 mil casos de Covid-19 em todo o Brasil, de acordo com a plataforma do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), e 832 óbitos foram contabilizados.
A título de comparação, entre 15/11 e 21/11 de 2020, antes da vacina, o país teve uma quantidade semelhante de casos (203 mil), mas foram 3.331 mortes. Boa parte desta queda tem a ver com os imunizantes, que se mostram eficientes para evitar casos graves, hospitalizações e óbitos em consequência da infecção causada pelo coronavírus. De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a maioria dos pacientes internados no país não tomou a vacina.
“Estamos vendo a redução progressiva de internações e mortes graças à vacinação. Começamos atrasados, com todas as questões que envolveram a compra de vacinas no início mas, assim que tivemos doses, a vacinação andou rápido. Chegamos a vacinar 2 milhões de pessoas por dia, em maio. Isso mostra o know-how que o Brasil tem no assunto”, afirma a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi.
A Coronavac, vacina da farmacêutica chinesa Sinovac, distribuída pelo Instituto Butantan, virou alvo de disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O chefe do Executivo se posicionou contra o imunizante, levantando dúvidas sobre a sua segurança e eficácia, e chegou a desautorizar a compra das doses pelo Ministério da Saúde.
Enquanto isso, o governador de São Paulo adotou a vacina e o Instituto Butantan chegou a começar a produção da fórmula antes mesmo de o governo federal adquirir as doses. A queda de braço só acabou no início de janeiro, quando o então ministro Eduardo Pazuello anunciou a compra de 100 milhões de doses da Coronavac e a inclusão da vacina no Plano Nacional de Imunizações (PNI).
A grande aposta do governo federal na época era a vacina de Oxford/AstraZeneca, que seria envasada na Fiocruz antes de começar a ser produzida em território nacional. O Brasil contava com lotes a serem enviados pelo Instituto Serum, da Índia, mas problemas de logística e a situação do país asiático, que vivia uma alta nos casos, causaram o atraso do envio das primeiras doses da vacina. Assim, a primeira dose aplicada por aqui foi da Coronavac.
Até a compra das vacinas da Pfizer/BioNTech, que hoje são os principais imunizantes aplicados no Brasil, foi cercada de problemas: o processo foi parar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Covid), sob a alegação de que o governo brasileiro teria ignorado três ofertas para aquisição das doses em agosto de 2020, evitando que 18,5 milhões de doses fossem enviadas ao Brasil em dezembro do mesmo ano.
Novo fôlego para a vacinação
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