Quantas vezes olhamos para um comprimido e pensamos: “Como é possível engolir algo assim, deste tamanho?”. Crianças e idosos, principalmente, encontram dificuldade na hora de ingerir cápsulas e comprimidos pelo seu tamanho e, além disso, a quantidade de remédios a ser ingeridos também é uma fonte de queixas. Para tentar solucionar o problema, frequentemente ocorre de os medicamentos serem divididos em frações menores, macerados, ou até mesmo dissolvidos em água. Porém estas práticas tão comuns podem até ser fatais, dependendo de alguns fatores. Além disso, o consumo concomitante de medicamentos e outras substâncias pode ser outra fonte de riscos.
Segundo uma reportagem da revista Saúde é vital, um estudo realizado na Inglaterra pelo laboratório farmacêutico Rosemont, 60% dos indivíduos com mais de 60 anos apresentam algum tipo de dificuldade para engolir remédios; e isso também é comum no Brasil. A ingestão incorreta de medicamentos, além dos efeitos colaterais, pode causar intoxicações e até mesmo a morte do indivíduo. Esse risco e a sua gravidade variam com o medicamento.
A partição dos comprimidos consiste em repartir comprimidos em frações menores. Esta prática inicialmente foi incentivada por operadoras de planos de saúde, que compravam comprimidos de altas concentrações para que repartidos em partes de concentração menores fossem administrados a diversos pacientes, o que era mais viável que comprar comprimidos com concentrações menores para serem tomados inteiros. Alguns comprimidos, por exemplo, tem o mesmo preço para as concentrações de 20 mg e 40 mg; assim, é mais „viável? o de 40 mg que o de 20 mg, que terá „rendimento? inferior, reduzido à metade.
Alguns comprimidos, denominados revestidos, possuem um revestimento especial, que interfere na forma e local do corpo onde serão absorvidos; se esse revestimento for destruído, o remédio será dissolvido no organismo onde não deveria, e isso pode anular seu efeito, ou então a interação do remédio com as secreções estomacais, ou sua absorção pelo fígado pode causar intoxicações, ou favorecer o surgimento de lesões internas do trato gastrointestinal.
Um dos problemas da partição reside no fato de que nem sempre as partes obtidas apresentam tamanhos idênticos; assim, a dose ingerida não é, certamente, a ideal, podendo ser inferior ou superior.
Além disso, no comprimido pode não haver distribuição uniforme do princípio ativo, o que faz com que também haja risco da ingestão seja diferente da necessária quando repartido, pois uma parte pode conter muito e outra „quase nada? da molécula que causa o efeito terapêutico, assim, o efeito esperado pode não ser obtido. Alguns medicamentos, os comprimidos não revestidos podem não apresentar problemas de absorção, mas apenas de dosagem.
Já os comprimidos de liberação lenta têm seu revestimento e camadas desintegrados e há contato dos sucos e secreções salivares e gástricos, o que causa destruição da molécula, alteração em sua estrutura ou inativação, além do fato de que o efeito que deveria perdurar por várias horas é perdido, o que deve ser evitado em todos os casos.
Já a maceração, a prática de amassar o comprimido, causa desagregação das moléculas que são componentes das substâncias, assim como a dissolução de cápsulas em água atrapalha a ação dos remédios.
Para evitar as práticas que alteram a ação de remédios, algumas indústrias estão criando tecnologias que permitam a fabricação de compridos menores do que os convencionais, e outras formas farmacêuticas (de apresentação e de administração) para que os remédios possam ser consumidos de diferentes formas, como em gotas, que são mais fáceis para tomar que os comprimidos. Assim como géis e cremes são disponibilizados sob a forma de adesivos e sprays que são de aplicação mais prática.
Outro cuidado a ser tomado é a ingestão concomitante (ao mesmo tempo) de vários medicamentos diferentes, por causa das possíveis interações entre eles; assim como a ingestão de álcool e alguns alimentos durante o tratamento são prejudiciais à saúde.
Se forem usados vários remédios com a mesma função, o efeito é potencializado, isso é prejudicial à saúde; um exemplo é o uso de ansiolíticos e chás calmantes- ao mesmo tempo, que pode causar queda da pressão arterial, entre outros efeitos. Assim como o uso de medicamentos com efeitos contrários, pode causar um desequilíbrio grave, como por exemplo, tomar remédios que "prendem" o intestino, e depois, usar laxantes para resolver o problema.
Ingerir álcool e medicamentos como os analgésicos podem causar danos ao fígado, pois ambos são metabolizados neste órgão e geram metabólitos altamente tóxicos; assim como antibióticos do gênero Quinolona não devem ser ingeridos com laticínios, que anulam seu efeito.
Os remédios apresentam determinadas formas de consumo, e devem ser ingerido daquela forma, pois testes são realizados durante seu desenvolvimento e eles são formulados de acordo com a forma como deverão ser consumidos; sendo assim, a forma ideal e segura de ingerir ou aplicar medicamentos é aquela para a qual eles foram desenvolvidos, sejam eles na forma de pomadas, géis, cápsulas, comprimidos, cremes, etc. é importante que o uso seja correto para que o efeito esperado seja atingido e para que os efeitos colaterais sejam evitados.
As intoxicações acidentais são muito frequentes e não podem ser deixadas de lado; são um grave problema de saúde pública, e ocorrem na maioria das vezes pelo uso incorreto de medicamentos ou pelo acesso de crianças, que são naturalmente mais curiosas e que acabam por tomar remédios acidentalmente.
Dados do Ministério da Saúde, compilados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), ligado à Fundação Oswaldo Cruz mostram que, em 2006, foram registrados 107.958 casos de intoxicação humana com um total de 488 óbitos. Dos quais os medicamentos lideraram a lista de principais agentes tóxicos, com 30,5% das ocorrências. O número de ingestão indevida de medicamentos e drogas de abuso por adultos deve-se, em sua maioria, às tentativas de suicídio. Do total de 23.089 casos de intoxicação atribuídos às tentativas de suicídio, 14.263 (61,8%) estão relacionados aos medicamentos. A facilidade ao acesso e ao acúmulo de medicamentos em casa é uma dos principais motivos das intoxicações.
Para evitar as intoxicações acidentais, o ideal seria comprar medicamentos fracionados (ou seja, a quantidade exata a ser consumida) pelo farmacêutico; além disso, o armazenamento deve ser feito em locais de difícil acesso para crianças, de preferência em caixas com trava de segurança, e que não fiquem visíveis para não despertar a curiosidade dos pequenos; além disso, evite tomar remédios perante às crianças, para evitar o incentivo, pois eles tomam como exemplo atitudes de pessoas que consideram exemplares e tendem a repeti-las. Assim como os produtos de limpeza como água sanitária e álcool devem ser mantidos fora do alcance deles, pois estes itens domésticos são fontes habituais de acidentes.
O consumo de bebidas alcoólicas e cigarro perante as crianças é um mau exemplo. Medicar-se também pode ser. Evite intoxicações acidentais: medicação em frente às crianças, não! Não seja um agente propulsor, não desperte curiosidade desnecessária e evite assim, acidentes.
“Entre remédio e veneno, a única diferença é a dose.” Esta é uma antiga frase conhecida por quase todos. Mas, podemos concluir que esta não é a única diferença. Um remédio ingerido de forma incorreta, desnecessariamente ou em conjunto com outros medicamentos ou substâncias pode apresentar altos riscos à saúde, tão graves quanto uma dose letal. É importante usar os medicamentos da maneira como foi feita a prescrição, para assim evitar-se riscos e obter-se o efeito terapêutico desejado.
Fabiana Furtado Filippini
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