A imagem de "subir a montanha" é reconhecida e usada a muito tempo, por diferentes culturas da humanidade. Significa viver uma jornada onde você encara vários desafios até chegar ao lugar mais alto. Simbolicamente e internamente, podemos associar essa imagem a uma busca pela elevação da nossa própria consciência.
Significa sair do nível onde você está e, com esforço e prontidão, encarar de frente os desafios que te chegam, desenvolvendo, assim, as habilidades necessárias para elevar essa consciência à um patamar mais alto. Significa, também, a possibilidade de estar mais perto do sol, se conectar com o sagrado da natureza e olhar as coisas de cima, conseguindo enxergar a vida de outra perspectiva.
É com essa imagem que tento viver as aventuras da minha vida, subindo e descendo montanhas todos os dias, e de várias formas diferentes. Também foi com essa imagem que experimentei chegar ao pico da Serra de São José, sobre a qual escrevi um relato e compartilho com aqueles que tenham interesse para lê-lo a seguir.
Ontem, vivi a ventura de subir a Serra de São José, que abriga o ponto mais alto do Estado do Rio Grande do Norte, e está localizada no município de Venha Ver.
No início, pensei em todas e dificuldades e motivos para não encarar essa jornada, mas, me recusando a ceder aos argumentos da minha mente, cheguei pronta e animada na casa de Samara as 4h30 da manhã, para encontrar o Sr Dão (nosso guia), e os outros integrantes do grupo.
Partimos para a nossa jornada com os primeiros raios de sol, alegres e com muitas expectativas sobre o dia.
Comecei a me preocupar antes de chegar aos Bandeiras, pois percebi que havia excedido o peso da minha mochila. Mesmo respeitando meu ritmo (mais lento que o restante do grupo), já estava muito cansada, o que acabava nos atrasando. Nesse momento, foi indispensável dividir o peso que eu levava, colocando parte dele na mochila de Angélica, além de entregar, a minha própria, para Samara - Reconheça os seus limites, calcule bem e ajuste a sua carga, mas se ainda assim for difícil de carregar, conte com a ajuda de um amigo.
Continuamos caminhando e eu estava calada. Já cansada, permanecia em silêncio e de cabeça baixa, tentando preservar minha energia para o que ainda viria. Na minha postura, não consegui pensar na ideia de usar alguma coisa como apoio, mas Ana Érica estava atenta, e pegou varas para que pudéssemos ter um impulso extra - Esteja atento aos recursos que encontra pelo caminho e, se for necessário, use-os como suporte, para gerar impulso na direção em que está indo.
Daquele momento em diante, corrigi minha postura e me obriguei a ficar mais atenta às lições, que essa aventura e aquele contexto, poderiam me dar.
A primeira parte da subida foi difícil (como sabíamos que seria), mas contar com o apoio e paciência do grupo foi indispensável. Os da frente, ditavam o ritmo da caminhada e sinalizavam sobre os perigos encontrados - pedras, espinhos, buracos - ajudando os que vinham atrás. A primeira recompensa veio. Como foi bom sentir aquele vendo gelado, respirar o ar puro da serra e poder enxergar a cidade de outra perspectiva. E ainda teve uma reflexão sobre a necessidade de saber apreciar a beleza.
Retomamos o caminho, agora com mais energia e inspirados a continuar, com a certeza de uma recompensa ainda maior.
Havia chegado a hora de reconhecer a importância da sabedoria e liderança do Sr. Dão. Com 67 anos de idade, se movimentava com maestria pelo mato, indicando o caminho e fazendo comentários importantes sobre a naturaza, a história da Serra e do município.
Continuamos subindo e chegamos a um lugar belíssimo. Tive absoluta certeza de que lá, o céu é mais azul, e o sol estava mais perto de nós. O vento forte diminuía o calor, e nos empolgamos tirando fotos e aproveitando o momento. Eu jurei que havíamos chegado. Pedi ao grupo que continuasse para que eu pudesse meditar um pouco - achei que encontrariam uma arvore com sombra para o descanso e o café - e qual não foi a minha surpresa ao ver Samara voltando para me buscar. Ninguém havia me dito que já tínhamos chegado, eu acreditei no meu próprio pensamento - equivocado - talvez por desejar conforto e desacanso - Tenha próximo à você, pessoas que não te deixem para traz, pois no caminho, existem lindas passagens que alimentam suas ilusões e de onde você não quer sair, mas ainda não são o ponto final da jornada.
Novamente nos embrenhamos na mata e ao tentar usar uma vara como apoio, percebi que naquele ambiente, ela mais atrapalhava do que ajudava, diferente do início da jornada - Saiba deixar para trás o que não for mais necessário, se adaptando as características do contexto.
Parece incrível mas, a essa altura, eu consegui carregar minha própria mochila e fiquei feliz por me responsabilizar por ela - Com o passar do tempo e a adaptação necessária, renovamos nossa energia. As vezes o que falta não é a força física, mas a confiança em nós mesmos.
Finalmente chegamos ao nosso objetivo (O ponto mais alto da serra), e o meu primeiro pensamento foi: "Não é como eu pensava, achei que fosse mais bonito". Mas como foi bom aquele momento de partilha. Partilhamos a comida física, e alimentamos o corpo, mas principalmente, partilhamos momentos de felicidade e alimentamos a alma. Lembramos da infância e ouvimos "histórias de caçador" contadas pelo Sr. Dão. Ouvimos os sons da natureza, e nos preocupamos com a possibilidade de encontrar uma onça. Aquele momento, ficará guardado dentro de nós, em uma caixinha de boas memórias, e nos ajudará a lembrar das coisas que, realmente, importam nesse vida - No local da chegada, não existe nada de extraordinário, o que conta mesmo é a jornada e as coisas que compartilhamos no caminho.
Começamos a voltar e eu percebi que em nenhum momento eu me questionei se conseguiria ou não. Talvez por que eu soubesse que não existia outra possibilidade, mas, diferente do início da jornada, não pensei em desistir - Quando não temos mais possibilidades, simplesmente seguimos. Muitas vezes, duvidamos da nossa capacidade para se manter na zona de conforto.
Em algum momento da descida o Sr Dão olha para mim e fala: "Valitina agora pegou meu passo". Eu nem havia me dado conta que seguia ele de perto, pois queria prestar atenção nas suas ações para aprender tudo que eu pudesse. Que senso de direção incrível! Nessa hora, refleti sobre a importância do líder. Alguém que faça a frente e te mostre a direção e o caminho. Respondi para ele: "Minha postura é de prontidão. Eu quero aprender". Como é importante saber manter essa postura diante da vida, e conseguir extrair dela, todos os ensinamentos possíveis - Siga de perto aqueles que sabem, sempre com uma postura de aprendiz e prontidão.
Alguns passos a frente, percebi surpresa, que eu, tão lenta no início, agora seguia o Sr. Dão como a segunda da fila, pois em um terreno específico, conseguia me movimentar mais rápido que o restante do grupo. Mas essa percepção, me trouxe também, a noção de responsabilidade e necessidade de esperar os outros, cumprindo agora a missão de apontar o caminho mais seguro e de menor resistência - Quem anda na frente tem a obrigação de indicar o melhor caminho, mas todos tem responsabilidade e condições de ajudar durante o percurso.
Após percorrer 70% do caminho, a música nos trouxe alegria e animação, ajudando a controlar a emoções, agora tão mexidas - A música influencia o emocional, e pode ajudar a controlá-lo nos momentos necessários.
Quase na chegada, o corpo físico começa a gritar. O sol queima, o cansaço bate, os cortes na pele começam a arder. Nesse momento, é preciso manter o ânimo e olhar para o orgulho que começa a nascer pelo feito. Mas o sentimento presente é quase de tristeza, pois bem lá no fundo, sabemos que se trata da finalização de algo, que foi muito importante - Todos os finais exigem de nós coragem, para agradecer pelo que passou e sintetizar a experiência.
É hora de juntar as energias restantes para ter o impulso necessário de chegar em casa. Por mais que a jornada seja incrível e necessária ao nosso crescimento, não existe nada melhor do que a sensação de chegar em casa. O mesmo ponto de onde partimos e para onde voltamos, com a certeza do acolhimento e cuidados necessários.
Escrevo agora, na tentativa de elaborar e organizar todos os aprendizados de ontem e aproveito para externar minha profunda gratidão áqueles que compartilharam essa jornada comigo. Vocês foram indispensáveis! Espero que a vida nos proporcione outros momentos, tão incríveis e significativos quanto esse. Obrigada!
Para finalizar, lembro (à mima mesma) da importância de sempre buscar superação e crescimento, pois cada final de jornada, por maior que ela seja, traz consigo a possibilidade de novas outras, maiores ou não, mas que exigirão de nós força e coragem.
Termino essa jornada fisicamente esgotada, mentalmente fortalecida, espiritualmente renovada e (sempre) agradecida!!!
FONTE FOTOS :ANGELICA ,ERICA,LEOMIR
TEXTOS:VALENTINA
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